quarta-feira, 11 de maio de 2011

Máquina de desfibrar sisal com maior produtividade e sem causar acidente vem dando certo há 18 anos em Santaluz

Acalentado durante  23 anos, um sonho dos trabalhadores da  cadeia produtiva do sisal pela substituição, por um equipamento moderno e seguro, das antigas máquinas de desfibrar o sisal, que causaram  centenas de mutilações de dedos, mãos, braços e antebraços na região sisaleira e que pudesse aumentar a produtividade, o debate em torno deste equipamento poderá ser acirrado na reunião da Comissão da Agricultura da ALBA que será realizada nesta quinta-feira (12), no Centro Cultural, na cidade de Conceição do Coité.

Ao longo de todo este tempo, houve diversas tentativas, desde as “bocas das máquinas” projetadas pela FUNDACENTRO e as inúmeras projetadas pelo paraibano José Faustino dos Santos, que foram apelidadas de Faustino I, II e o último lote distribuído aos produtores em outubro de 2010, cerca de 140 novas máquinas, foram chamadas de Faustino V.

O que se quer é substituir máquina Paraibana por uma máquina mais segura, com risco zero de mutilações de trabalhadores, exige menor esforço físico do operador, consome menos combustíveis, desperdiça menos, apresenta um maior rendimento e ainda pode ser deslocada com mais facilidade de uma roça para outra.

Problema poderia ter sido resolvido há duas décadas – Para o trabalhador rural Antônio Pedro Santos, 52 anos, residente no Povoado de Lagoa das Cabras, em Santaluz, o problema poderia esta resolvido há duas décadas, desde que Faustino, ainda funcionário da empresa COSIBRA, inventou uma máquina que nunca causou acidente e, em relação às paraibanas, produz o equivalente a dez motores paraibanos juntos. 

“Trabalhava na fazenda quando começou a funcionar esta máquina e apesar de não trabalhar mais, vejo que vem trabalhando e ao longo do tempo sofrendo alguns ajustes. Tá dando certo, pois rico não fica no prejuízo” falou “Seu Antônio”.

A COSIBRA produz um tipo de barbante, o Baler Twine e desenvolve uma gama de produtos resultantes da industrialização do sisal e destaca-se pela exportação de fios agrícolas para todo o mundo, além da produção de tapetes naturais de alta qualidade. “Toda produção da fazenda é para consumo próprio”, disse Moura.

A chegar ao local onde funciona uma das máquinas, é visível o esforço para dotar o ambiente mais humanizado, com espaços para refeição, com dois toldos, cadeiras e vasos com água potável. “Estamos melhorando e mandamos fazer outros toldos com dimensão de 5 x 5, com barra de ferro e mais resistentes”, mostrou o responsável de campo. Os atuais estão sendo considerados frágeis.

Os funcionários trabalham com fardas, botas e usam fones de ouvidos. A máquina estava instalada a 10 km da sede da empresa e os funcionários são transportados em um ônibus. “Aqui todos tem carteiras assinadas e recebem todos os diretos”, contou.

Como funciona – A palha do sisal é cortada por 13 pessoas, que transportam no lombo de 08 jegues, sendo que cada um tem um tropeiro, até a máquina, onde trabalham oito homens, sendo: Um operador, um cordinha (Que fica retirando a fibra da corda), um balanceiro, um resideiro e quatro alimentador das máquinas.

Os alimentadores das máquinas sobem seis degraus de uma escada com as palhas nos ombros e o operador distribui numa bandeja. Primeiro é desfibrado a cabeça e em seguida a rabisca, para, enfim, sair à fibra. Depois é transportada em charrete através de um trator de pneus e levada para serem lavadas e depois de 12 horas, estendidas.

A equipe esteve na Fazenda Mandacaru, há 35 km da cidade de Santaluz e conversou com Jackson Moura, responsável de campo da Companhia Sisal do Brasil (COSIBRA), uma indústria de fiação e tecelagem de sisal 100% natural e proprietária da fazenda onde funcionam quatro unidades.

Segundo o mecânico Henrique Mendes, o grande empecilho para colocar no mercado esta máquina é o custo final, que pode chegar a R$ 60 mil. “A ideia é o governo adquirir e distribuir com as associações e cooperativas e estas entidades colocar para funcionar de forma itinerante, parecida com a prática de bater milho e feijão”, sugeriu Mendes. Ele vem acompanhando as máquinas e buscando fazer novos ajustes.

Apesar do secretário de CT&I na época que foram distribuídas as máquinas em Valente, Feliciano Tavares Monteiro, ter classificado o novo engenho de “uma inovação com a cara da Bahia e a marca de um inventor que veio do povo”, os trabalhadores não se adaptaram ao novo modelo e a maioria, quase que absoluta, estão sem funcionar. “Nós aqui tivemos que fazer uma modificação e voltou a ser a paraibana”, contou um líder comunitário conhecido por Celso, residente na Comunidade do Rufino, em Araci.

Sisal emprega cerca de 700 mil pessoas na Bahia – A cultura do sisal possibilita a sobrevivência de aproximadamente 700 mil pessoas em mais de 260 mil hectares da cultura, distribuídos em mais de 40 municípios do Semiárido baiano, englobando os Territórios de Identidade do Sisal, Chapada da Diamantina, Piemonte da Diamantina, Semiárido Nordeste II, Sertão do São Francisco, Piemonte do Paraguaçu, Bacia do Jacuípe, Irecê, Vale do Jiquiriçá e Piemonte Norte do Itapicuru. Sendo que em mais da metade destes Territórios do sisal é a fonte de renda mais importante.

O Brasil é o maior exportador de sisal do mundo, com uma produção anual de 119 mil toneladas, o que corresponde a 56% da safra mundial. É também o maior produtor mundial de sisal, com uma fatia de 40% do mercado. A Bahia é a principal produtora de sisal do território brasileiro, contribuindo com 94% da produção nacional.


Fonte: CN