Acalentado durante 23 anos, um sonho dos
trabalhadores da cadeia produtiva do sisal pela substituição, por um
equipamento moderno e seguro, das antigas máquinas de desfibrar o sisal,
que causaram centenas de mutilações de dedos, mãos, braços e
antebraços na região sisaleira e que pudesse aumentar a produtividade, o
debate em torno deste equipamento poderá ser acirrado na reunião da
Comissão da Agricultura da ALBA que será realizada nesta quinta-feira
(12), no Centro Cultural, na cidade de Conceição do Coité.
Ao
longo de todo este tempo, houve diversas tentativas, desde as “bocas das
máquinas” projetadas pela FUNDACENTRO e as inúmeras projetadas pelo
paraibano José Faustino dos Santos, que foram apelidadas de Faustino I,
II e o último lote distribuído aos produtores em outubro de 2010, cerca
de 140 novas máquinas, foram chamadas de Faustino V.
O que se quer é substituir máquina Paraibana por uma máquina mais
segura, com risco zero de mutilações de trabalhadores, exige menor
esforço físico do operador, consome menos combustíveis, desperdiça
menos, apresenta um maior rendimento e ainda pode ser deslocada com mais
facilidade de uma roça para outra.
Problema poderia ter sido resolvido há duas décadas
– Para o trabalhador rural Antônio Pedro Santos, 52 anos, residente no
Povoado de Lagoa das Cabras, em Santaluz, o problema poderia esta
resolvido há duas décadas, desde que Faustino, ainda funcionário da
empresa COSIBRA, inventou uma máquina que nunca causou acidente e, em
relação às paraibanas, produz o equivalente a dez motores paraibanos
juntos.
“Trabalhava na fazenda quando começou a funcionar esta máquina e
apesar de não trabalhar mais, vejo que vem trabalhando e ao longo do
tempo sofrendo alguns ajustes. Tá dando certo, pois rico não fica no
prejuízo” falou “Seu Antônio”.
A COSIBRA produz um tipo de barbante, o Baler Twine e desenvolve uma
gama de produtos resultantes da industrialização do sisal e destaca-se
pela exportação de fios agrícolas para todo o mundo, além da produção de
tapetes naturais de alta qualidade. “Toda produção da fazenda é para
consumo próprio”, disse Moura.
A chegar ao local onde funciona uma
das máquinas, é visível o esforço para dotar o ambiente mais
humanizado, com espaços para refeição, com dois toldos, cadeiras e vasos
com água potável. “Estamos melhorando e mandamos fazer outros toldos
com dimensão de 5 x 5, com barra de ferro e mais resistentes”, mostrou o
responsável de campo. Os atuais estão sendo considerados frágeis.
Os
funcionários trabalham com fardas, botas e usam fones de ouvidos. A
máquina estava instalada a 10 km da sede da empresa e os funcionários
são transportados em um ônibus. “Aqui todos tem carteiras assinadas e
recebem todos os diretos”, contou.
Como funciona –
A palha do sisal é cortada por 13 pessoas, que transportam no lombo de
08 jegues, sendo que cada um tem um tropeiro, até a máquina, onde
trabalham oito homens, sendo: Um operador, um cordinha (Que fica
retirando a fibra da corda), um balanceiro, um resideiro e quatro
alimentador das máquinas.
Os alimentadores das máquinas sobem seis
degraus de uma escada com as palhas nos ombros e o operador distribui
numa bandeja. Primeiro é desfibrado a cabeça e em seguida a rabisca,
para, enfim, sair à fibra. Depois é transportada em charrete através de
um trator de pneus e levada para serem lavadas e depois de 12 horas,
estendidas.
A equipe esteve na Fazenda
Mandacaru, há 35 km da cidade de Santaluz e conversou com Jackson Moura,
responsável de campo da Companhia Sisal do Brasil (COSIBRA), uma
indústria de fiação e tecelagem de sisal 100% natural e proprietária da
fazenda onde funcionam quatro unidades.
Segundo o mecânico Henrique Mendes, o grande empecilho para colocar
no mercado esta máquina é o custo final, que pode chegar a R$ 60 mil. “A
ideia é o governo adquirir e distribuir com as associações e
cooperativas e estas entidades colocar para funcionar de forma
itinerante, parecida com a prática de bater milho e feijão”, sugeriu
Mendes. Ele vem acompanhando as máquinas e buscando fazer novos ajustes.
Apesar
do secretário de CT&I na época que foram distribuídas as máquinas
em Valente, Feliciano Tavares Monteiro, ter classificado o novo engenho
de “uma inovação com a cara da Bahia e a marca de um inventor que veio
do povo”, os trabalhadores não se adaptaram ao novo modelo e a maioria,
quase que absoluta, estão sem funcionar. “Nós aqui tivemos que fazer uma
modificação e voltou a ser a paraibana”, contou um líder comunitário
conhecido por Celso, residente na Comunidade do Rufino, em Araci.
Sisal emprega cerca de 700 mil pessoas na Bahia
– A cultura do sisal possibilita a sobrevivência de aproximadamente 700
mil pessoas em mais de 260 mil hectares da cultura, distribuídos em
mais de 40 municípios do Semiárido baiano, englobando os Territórios de
Identidade do Sisal, Chapada da Diamantina, Piemonte da Diamantina,
Semiárido Nordeste II, Sertão do São Francisco, Piemonte do Paraguaçu,
Bacia do Jacuípe, Irecê, Vale do Jiquiriçá e Piemonte Norte do
Itapicuru. Sendo que em mais da metade destes Territórios do sisal é a
fonte de renda mais importante.
O Brasil
é o maior exportador de sisal do mundo, com uma produção anual de 119
mil toneladas, o que corresponde a 56% da safra mundial. É também o
maior produtor mundial de sisal, com uma fatia de 40% do mercado. A
Bahia é a principal produtora de sisal do território brasileiro,
contribuindo com 94% da produção nacional.
Fonte: CN
Fonte: CN