segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Araci: A vida dura de quem sobrevive dos trabalhos pesados do campo


Há quem diga que é o pior trabalho do mundo trabalhar sentado e às vezes até com ar condicionado para ganhar um salário mínimo dentro de uma sala. Imagine só quem vive trabalhando debaixo de um sol escaldante do campo com as mãos ardidas do cabo das ferramentas e uma jornada de quase 12 horas, para ganhar entre 20 a 25 reais por diária. Parece ficção, mas é a realidade de muitas pessoas que mora no campo, gente simples e quase sem estudo, vende seu dia por qualquer preço e por qualquer trabalho para sustentar a família.

Exatamente isso foi o que encontrei no povoado de Bento na região Pedra Alta distrito do município de Araci.  Debaixo de um calor infernal encontrei o senhor Cláudio Santos de 75 anos, pai de nove filhos, um senhor simpático que traz no sangue a difícil vida de um produtor rural que mesmo aposentado não deixa o hábito de trabalhar. Ele me cedeu alguns minutos do seu árduo serviço para contar um pouco da sua pesada rotina. No momento da reportagem ele trabalhava sozinho na construção de uma cerca de seis linhas de arame farpado e estacas.

Seu Cláudio é diarista e mesmo com o benefício do Governo Federal (aposentadoria) vive de biscate para ajudar o orçamento da casa e criar os três dos nove filhos que vivem com ele. “Faço diárias para adquirir mais um dinheiro, porque a minha aposentadoria já vem descontada devido um maldito empréstimo que fiz”, conta ele, ao afirmar que o empréstimo que fez para fazer uma reforma na casa, vai sair mais caro em 5 anos do que se tivesse feito a reforma com as pequenas economias.  Apesar do trabalho do campo ser pesado seu Cláudio não reclama, e ele garante, para quem nunca fez é difícil, mas depois com a prática o ‘cabra’ vai se acostumando.

Ele contou que hoje em dia há poucos como ele no meio rural, a maioria foram para as cidades atrás de uma vida melhor, o exemplo são os próprios filhos de seu Cláudio que hoje estão em São Paulo e ele vive hoje quase sozinho se não fosse a esposa e os três filhos casula. Além das jornadas para ganhar um dinheirinho, ele ainda tem que cuidar da pequena propriedade e da fraca agricultura que maneja com os filhos, de lá às vezes sai o feijão e a farinha de mandioca para o consumo da própria família. Perguntei se ele vendia seus produtos no mercado, e uma revelação me deixou constrangido: “Não vendo mais, porque não tenho condições de produzir uma boa quantidade de feijão, milho, ou mandioca, e quando eu chego lá com apenas dois ou três sacas, os grandes compradores querem pagar um preço muito abaixo do que eu gastei para produzir”, com um sorriso seco seu Cláudio revela, é melhor guardar para o consumo da família do que vender seu suor por preço de banana.

Questionei sobre o preço da diária que ele ganha, e rapidamente ele respondeu: “É o que pagam por aqui e os donos do serviço às vezes acham caro”.  Mas mesmo sendo nesse preço seu Cláudio não fica parado, sempre tem alguns serviços para fazer, mas garantiu nenhum deles é leve. Roçagem, distoca, cercas, e até limpar represas com carrinho de mão foram alguns serviços que ele descreveu que já fez e faz a qualquer hora, só que com um detalhe: o preço da diária não aumenta se o serviço for mais pesado.

Seu Cláudio é um exemplo de muitos cidadãos de garra e que não temem pelo trabalho, mas é revoltante  ao saber que um senhor como ele não está gozando de sua aposentadoria por causa de uma ilusão de empréstimo. E é gratificante saber que mesmo com a dureza da vida rural, ele não troca o seu fresco amanhecer pelo céu chamuscado da cidade. Viva seu Cláudio!



Fonte: Portal Folha