Há quem diga que é o pior trabalho do mundo trabalhar sentado e às
vezes até com ar condicionado para ganhar um salário mínimo dentro de
uma sala. Imagine só quem vive trabalhando debaixo de um sol escaldante
do campo com as mãos ardidas do cabo das ferramentas e uma jornada de
quase 12 horas, para ganhar entre 20 a 25 reais por diária. Parece
ficção, mas é a realidade de muitas pessoas que mora no campo, gente
simples e quase sem estudo, vende seu dia por qualquer preço e por
qualquer trabalho para sustentar a família.
Exatamente isso foi o que encontrei no povoado de Bento na região
Pedra Alta distrito do município de Araci. Debaixo de um calor
infernal encontrei o senhor Cláudio Santos de 75 anos, pai de nove
filhos, um senhor simpático que traz no sangue a difícil vida de um
produtor rural que mesmo aposentado não deixa o hábito de trabalhar.
Ele me cedeu alguns minutos do seu árduo serviço para contar um pouco
da sua pesada rotina. No momento da reportagem ele trabalhava sozinho
na construção de uma cerca de seis linhas de arame farpado e estacas.
Seu Cláudio é diarista e mesmo com o benefício do Governo Federal
(aposentadoria) vive de biscate para ajudar o orçamento da casa e criar
os três dos nove filhos que vivem com ele. “Faço diárias para adquirir
mais um dinheiro, porque a minha aposentadoria já vem descontada devido
um maldito empréstimo que fiz”, conta ele, ao afirmar que o empréstimo
que fez para fazer uma reforma na casa, vai sair mais caro em 5 anos do
que se tivesse feito a reforma com as pequenas economias. Apesar do
trabalho do campo ser pesado seu Cláudio não reclama, e ele garante,
para quem nunca fez é difícil, mas depois com a prática o ‘cabra’ vai
se acostumando.
Ele contou que hoje em dia há poucos como ele no meio rural, a
maioria foram para as cidades atrás de uma vida melhor, o exemplo são
os próprios filhos de seu Cláudio que hoje estão em São Paulo e ele
vive hoje quase sozinho se não fosse a esposa e os três filhos casula.
Além das jornadas para ganhar um dinheirinho, ele ainda tem que cuidar
da pequena propriedade e da fraca agricultura que maneja com os filhos,
de lá às vezes sai o feijão e a farinha de mandioca para o consumo da
própria família. Perguntei se ele vendia seus produtos no mercado, e
uma revelação me deixou constrangido: “Não vendo mais, porque não tenho
condições de produzir uma boa quantidade de feijão, milho, ou mandioca,
e quando eu chego lá com apenas dois ou três sacas, os grandes
compradores querem pagar um preço muito abaixo do que eu gastei para
produzir”, com um sorriso seco seu Cláudio revela, é melhor guardar
para o consumo da família do que vender seu suor por preço de banana.
Questionei sobre o preço da diária que ele ganha, e rapidamente ele
respondeu: “É o que pagam por aqui e os donos do serviço às vezes acham
caro”. Mas mesmo sendo nesse preço seu Cláudio não fica parado, sempre
tem alguns serviços para fazer, mas garantiu nenhum deles é leve.
Roçagem, distoca, cercas, e até limpar represas com carrinho de mão
foram alguns serviços que ele descreveu que já fez e faz a qualquer
hora, só que com um detalhe: o preço da diária não aumenta se o serviço
for mais pesado.
Seu Cláudio é um exemplo de muitos cidadãos de garra e que não temem
pelo trabalho, mas é revoltante ao saber que um senhor como ele não
está gozando de sua aposentadoria por causa de uma ilusão de
empréstimo. E é gratificante saber que mesmo com a dureza da vida
rural, ele não troca o seu fresco amanhecer pelo céu chamuscado da
cidade. Viva seu Cláudio!
Fonte: Portal Folha